Muito se tem falado sobre “Intolerância ao glúten”, mas você realmente sabe do que se trata? Leia e veja abaixo como orientar melhor o seu paciente sobre o assunto!
1 – “Intolerância ao Glutén” – será mesmo?
Durante décadas a Intolerância ao glúten era um dos nomes da doença celíaca, que é uma condição autoimune causada pelo Glúten em pessoas geneticamente predispostas. Atualmente qualquer mal-estar associado à ingestão de farinhas ou cereais está sendo, indiscriminadamente (e indevidamente), chamado de intolerância ao glúten. E geralmente isso ocorre porque as pessoas estão deixando de comer glúten antes de fazer os exames (muitas vezes orientadas pelos próprios nutricionistas) e aí quando os fazem, os resultados são negativos ou inconclusivos, mesmo que sejam celíacos, alérgicos ou sensíveis!
Tipos de Desordens relacionadas ao Glúten
Na realidade, desde 2011 a nomenclatura das desordens relacionadas ao glúten foi padronizada e desde então, além da doença celíaca, outras condições associadas à ingestão desta proteína vêm sendo consideradas:
- ataxia do glúten
- alergia ao trigo
- sensibilidade ao glúten não celíaca
Cada uma dessas condições possui características específicas, exames diferentes para diagnóstico médico e necessitam de alguns cuidados especiais em relação ao tratamento.
2 – Diagnóstico Eficaz – o que realmente temos?
A única situação em que podemos pensar em “intolerância”, é quando há disbiose intestinal ou mesmo SIBO (crescimento anormal de bactérias em intestino delgado), e a ingestão de alimentos contendo Fodmaps (Fermentable Oligossacharides, Dissacharides, Monossacharides And Poliols) poderia causar excesso de produção de gases intestinais, dor abdominal, diarreia e desconforto. Mas aí o problema não está associado ao glúten! São as bactérias intestinais fermentando tudo o que a pessoa come e no caso do trigo, os culpados são os frutanos!
Mas como saber o que realmente temos? Indo a um gastroenterologista e fazendo os exames corretos, antes da exclusão do Glúten!
3 – Outros benefícios da Exclusão do Glúten
Além dessas, a exclusão do glúten ainda pode ser benéfica em outras situações, tais como:
- doenças autoimunes
- síndrome do intestino irritável
- doenças inflamatórias intestinais e
- autismo
Isso se deve aos seguintes motivos:
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O glúten aumenta a permeabilidade intestinal de todas as pessoas (menos que nos celíacos, mas aumenta). Pessoas com doenças autoimunes já tem essa permeabilidade aumentada, então, o glúten aumentaria ainda mais, aumentando os riscos de inflamação por maior passagem de antígenos alimentares e fragmentos bacterianos para corrente sanguínea;
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O trigo possui outras proteínas (como as inibidores da alfa amilase e da tripsina) que sozinhas (independente do Glúten) estimulam a cascata de inflamação a partir do intestino, podendo piorar o quadro inflamatório de outras doenças;
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Existem peptídeos do glúten, que quando não digeridos, podem estimular receptores cerebrais, estimulando comportamentos de compulsão e de estereotipias, nos transtornos do espectro autista
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O glúten é uma proteína de baixo valor biológico e quando eliminado da dieta, pode ser substituído por alimentos de maior valor nutricional, contribuindo para melhoria da saúde das pessoas.
Conclusão – Exclusão do Glúten não é regra
Porém não adianta excluir o glúten e continuar se alimentando de forma errada, com muitos produtos ultraprocessados, ricos em outras farinhas, sal, açúcar e gordura, pois a inflamação não vai melhorar e ainda pode piorar, caso ocorra aumento de peso. Na verdade, a exclusão de glúten não é uma regra…seria mais um recurso para ajudar o paciente. Mas é um recurso que precisa ser usado com sabedoria pelo profissional de saúde!
Autor: Juliana Crucinsky – Nutricionista. Consultora Técnica da Fenacelbra.